O mais recente escândalo da CBF, a revelação de um contrato que terceiriza a organização de amistosos, inclusive submetendo convocações ao crivos de patrocinadores, devia servir para uma reflexão do quanto a seleção brasileira está distante do país. A terceirização imposta por um contrato com uma empresa ligada a um grupo do Oriente Médio pode até não ser ilegal, mas é extremamente imoral e alija várias cidades de receber o time nacional em amistosos, jogando a agenda da equipe que representa o país a interesses comerciais que nem sempre coincidem com os objetivos técnicos.
Caso bem notório é o de Curitiba. A última das oito vezes que a capital paranaense, oitava maior cidade do país, com dois times na Série A, dois times que venceram o Brasileiro, dois que chegaram à decisão da Copa do Brasil, três que jogaram Libertadores nos últimos dez anos, viu a seleção jogando em seus domínios foi em 2003. De lá para cá, por exemplo, a seleção jogou doze amistosos em Londres, mais que a Cidade Sorriso em sua história. Enquanto isso só promessas. Se não houvesse o contrato, este jogo já teria acontecido algumas vezes? O mesmo vale para várias cidades que agora têm estádios de bom nível, mesmo as fora da Copa, mas que ainda vislumbram a seleção “playing in foreign fields”, diriam os ingleses.
Desde os tempos de Ricardo Teixeira à frente da CBF há uma promessa de que a seleção jogue ao menos um jogo em Curitiba. A última passagem da equipe foi para treinamento antes da Copa de 2010, mas sem amistoso algum. O tal amistoso prometido várias vezes, ainda mais como maneira da CBF dar aval à Federação Paranaense, que havia passado por um longo e desastroso domínio de Onaireves Moura, foi sendo protelado seguidamente, até Teixeira pedir renúncia após envolvimento em denúncias de pagamento de propinas na Suíça dentro da Fifa. Depois, não se falou mais nisso e o tal amistoso, pois a seleção só fez jogos oficiais nas Copas América, das Confederações e do Mundo, virou uma lenda urbana do padrão do metrô de Curitiba e da conclusão da Linha Verde. Não será surpresa se ficar de fora de um dos nove jogos do país como mandante nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018 que será disputada entre outubro de 2015 e outubro de 2017.
Algumas causas para isso, além da ingerência da empresa que a CBF terceirizou a seleção, estão na pouca força política do estado, se comparado a outros de mesmo peso esportivo e econômico. Isso fruto de um estado com cidades relativamente jovens no interior e com uma capital que olhava muito pouco para lá.
Estádio não é problema. Foram três estádios no Século XXI que receberam a seleção: Pinheirão, Couto Pereira e Arena da Baixada, sendo que apenas o primeiro não teria condições de receber futebol novamente. Os outros dois passaram por melhorias nestes 12 anos de ausência. Estrutura para treinamento não é problema também, pois os clubes locais têm instalações bem acima da média nacional, sem falar que a cidade abrigou a Espanha na Copa além de quatro partidas. Será que agora vai ou teremos um novo item, um jogo da seleção, na anedota curitibana de que o avesso escritor Dalton Trevisan irá dar uma entrevista coletiva na inauguração do metrô?
As oito vezes em Curitiba
21/06/1984 – Amistoso – Couto Pereira – Brasil 1 x 0 Uruguai – Gol: Arhurzinho (BRA).
07/05/1986 – Amistoso – Pinheirão – Brasil 1 x 1 Chile. Gols: Mariano Puyol (CHI), Casagrande (BRA)
27/06/1991 – Amistoso – Pinheirão – Brasil 1 x 1 Argentina. Gols: Claudio Caniggia (ARG), Neto (BRA)
13/11/1996 – Amistoso – Pinheirão – Brasil 2 x 0 Camarões: Gols: Giovanni (BRA), Djalminha (BRA)
26/06/1999 – Amistoso – Arena da Baixada – Brasil 3 x 0 Letônia. Gols: Alex (BRA), Roberto Carlos (BRA), Ronaldo (BRA)
09/08/2001 – Amistoso – Arena da Baixada – Brasil 5 x 0 Panamá. Gols: Edílson (BRA), Alex (BRA), Euller (BRA), Juninho Paulista (BRA), Roberto Carlos (BRA).
07/10/2001 – Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2002 – Couto Pereira – Brasil 2 x 0 Chile. Gols: Rivaldo (BRA), Edílson (BRA).
19/11/2003 – Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2006 – Pinheirão – Brasil 3 x 3 Uruguai. Gols: Kaká (BRA), Ronaldo (BRA), Diego Forlán (URU), Diego Forlán (URU), Gilberto Silva (contra pró-URU), Ronaldo (BRA).
Por onde andam os personagens da última vez?
Pinheirão (estádio) – Projeto megalômano da FPF que ajudou a causar a ruína financeira da entidade, foi fechado em 2007 por falta de condições de segurança, sendo lacrado pela Justiça. Devido às dívidas da FPF, foi leiloado em 2012 por R$ 57.2 milhões. O dono, João Destro, empresário atacadista, ainda não deu um destino ao local.
Horácio Elizondo (árbitro) – atingiu seu auge logo em 2006, apitando abertura e final da Copa. Mundial este marcado pela cabeçada de Zidane em Materazzi na decisão. Trabalha como comentarista de arbitragem na televisão argentina. Tem 51 anos.
Dida – Goleiro do Brasil defendia o Milan e foi titular da seleção em 2006. Depois da saída do time italiano, em 2010, ficou quase dois anos parado até assinar com a Portuguesa. Depois defendeu o Grêmio e atualmente é reserva do Internacional. Tem 41 anos e é também um dos líderes do Bom Senso FC.
Cafu – O capitão da seleção atuou até 2008 no Milan, encerrando a carreira. Tem 44 anos.
Lúcio – O zagueiro tem 37 anos e tenta encontrar um novo clube após rescindir em janeiro com o Palmeiras, onde teve passagem apagada.
Roque Júnior – O zagueiro se aposentou em 2010 no Ituano e tentou primeiro carreira como dirigente, primeiro do Primeira Camisa, time que fundou, depois do Ituano, sendo gerente de futebol do Paraná. Seu último trabalho foi como técnico do XV de Piracicaba, durando seis jogos no Paulistão 2015. Tem 38 anos.
Júnior – O lateral-esquerdo encerrou a carreira em 2010 no Goiás. Tem 41 anos.
Gilberto Silva – O volante ainda está na ativa, porém se recupera de grave lesão. Está no América-MG, clube que o revelou, e tem 38 anos.
Renato – O meio-campista é um dos veteranos do time do Santos, justamente o clube onde teve mais destaque no Brasil. Tem 36 anos.
Juninho Pernambucano – O meia se aposentou no começo de 2014 no Vasco, depois de lesões seguidas. Tem 40 anos e é comentarista esportivo de rádio e televisão.
Kaká – O meia de 33 anos está na ativa, inclusive fazendo parte da lista de espera da seleção na Copa América. Atua pelo Orlando City da MLS.
Alex – Após longa passagem pelo futebol turco, o meia paranaense jogou suas duas últimas temporadas como profissional no time de coração, o Coritiba, parando no fim de 2014. É um dos líderes do Bom Senso FC e aos 37 anos é comentarista de televisão.
Zé Roberto – O meia e lateral-esquerdo tem 40 anos e ainda joga. Defende atualmente o Palmeiras.
Ronaldo – O Fenômeno encerrou a carreira em 2011 no Corinthians, com problemas para manter o peso e sucessivas lesões. Atualmente é dono do Fort Lauderdale Strikers, da NASL, e está inscrito para jogar pela equipe com o número 9. Tem 38 anos.
Rivaldo – O meia-atacante tem 43 anos e é presidente do Mogi-Mirim, clube em que fez suas últimas partidas como profissional em 2014.
Luís Fabiano – O centroavante de 34 anos defende o São Paulo, clube em que viveu os melhores momentos da carreira no Brasil.
Carlos Alberto Parreira – O técnico do Tetra em 1994 esteve como coordenador técnico da seleção na Copa de 2014 e ficou marcado nesta campanha pelas frases extremamente otimistas, até arrogantes, e pelo ridículo episódio da Carta da Dona Lúcia após a derrota de 7 a 1 para a Alemanha.
Gustavo Munúa – O goleiro uruguaio tem 37 anos e defende o Nacional de Montevidéu.
Adrián Romero – O defensor uruguaio tem também 37 anos e se aposentou no fim da última temporada jogando pelo Miramar Missiones.
Álvaro Recoba – El Chino, uma lenda do futebol uruguaio, tem 39 anos e vive seus últimos lances como jogador do Nacional. Para nesta temporada.
Joe Bizera – O zagueiro de 35 anos defende atualmente o Peñarol.
Diego López – O defensor de 40 anos é hoje treinador.Foi demitido recentemente do Bologna, da Série B Italiana.
Alejandro Lago – O defensor de 35 anos atua pelo Cerro do Urtuguai.
Marcelo “Pato” Sosa – O meia de 36 anos encerrou carreira em 2013 no Danúbio.
Nelson Abeijón – O meia parou de jogar em 2008 pelo River Plate-URU. Tem 41 anos.
Richard Núñez – O ponteiro de 39 anos defende o Rampla Juniors.
Martín Ligüera – O meia de 34 anos veio morar em Curitiba anos depois. Jogou no Atlético Paranaense em 2012 e 2013 e depois foi um pouco mais a o sul defender o Joinville. Atualmente joga no Fénix.
Germán Hornos – O centroavante teve uma carreira complicada nos anos que seguiram, com acidente automobilístico no Natal de 2004 o deixando parado por um ano. Tem apenas 32 anos e sua última passagem como jogador foi em 2012 pelo Ñublense do Chile.
Ernesto Javier Chevantón – O atacante de 34 anos está sem clube após o rebaixamento do Liverpool no Campeonato Uruguaio. Cogita aposentadoria.
Marcelo Zalayeta – O atacante de 36 anos defende o Peñarol.
Diego Forlán – O atacante brilhou no Pinheirão e anos depois foi eleito o melhor jogador da Copa de 2010. Atualmente, aos 36 anos, defende o Cerezo Osaka do Japão.
Juan Ramón Carrasco – O técnico teve uma passagem pelo Atlético Paranaense em 2012, sendo marcado pelas improvisações pouco ortodoxas de jogadores e um estilo extremamente ofensivo, beirando às vezes o irresponsável. Está sem clube desde 2012, quando treinou o Danúbio.
Você seguiu o critério do livro da CBF sobre o assunto (apenas jogos entre seleções, distinto dos duelos contra equipes e selecionados estaduais), mas tem um personagem que você já deve ter encontrado na Suburbana e que vale um capítulo à parte. Em 1978 jogou a Seleção Paranaense contra o Brasil, com gol único do Nunes, pro Brasil, no último minuto. 1 x 0. O goleiro era o Altevir, sempre presente na Suburbana. Foi o melhor em campo. Inclusive parece que é comentarista de uma rádio em jogos da Suburbana. Nesse jogo houve o embate entre Zico (Arthur Coimbra) x Edu Coimbra.