Clube amador resiste à especulação imobiliária em bairro nobre de Curitiba

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Campo do Imperial é cercado de prédios ao sul e ao leste: clube não arreda o pé de região que virou nobre e planeja integrar novos moradores à Suburbana
Campo do Imperial é cercado de prédios ao sul e ao leste: clube não arreda o pé de região que virou nobre e planeja integrar novos moradores à Suburbana

Terceiro bairro com o metro quadrado mais caro de Curitiba, o Mossunguê, tem um clube da Suburbana resistindo contra a especulação imobiliária, o Imperial. O Tricolor está desde sua fundação, em 1955, no local, o Estádio Octávio Sílvio Nicco, e tem dito não a todas as propostas para se desfazer do terreno onde fica seu campo.

“Não tem Cristo que fará a gente se desfazer disso. Nem trocar, nem vender, nem permutar. É do nosso Imperial. Nós amamos aqui e a gente é uma família que vive aqui. Nunca, enquanto estivermos vivos, vamos se desfazer”, afirmou o presidente da equipe, Carlos Jorge Choisnki, antes da partida da semana passada, em que o Imperial bateu o Caxias por 4 a 2.

Para quem não conhece Curitiba ou sua zona oeste, o Mossunguê é atravessado por um eixo de transporte coletivo e atualmente vê arranha-céus tomarem o horizonte de um bairro que há algumas décadas era praticamente agrícola. Foi numa paisagem de chácaras que um grupo de três famílias fundadoras do clube doaram por ocasião da fundação da equipe o terreno do estádio. O ônibus expresso chegou no início dos anos 80 com a obra das Conectoras Oeste, conjunto de três avenidas paralelas: a do ônibus e as vias rápidas sentido Centro e Bairro, ligando o Centro de Curitiba, a partir do Campina do Siqueira, à CIC Norte, passando pelo Campo Comprido.

O  eixo do transporte provocou uma mudança no zoneamento e no loteamento da região. Inicialmente, previa-se que este eixo Oeste de Curitiba alternasse casas menores e grandes prédios. A procura teria sido menor que a esperada pelo ramo imobiliário e, com alguma pressão, as construtoras conseguiram com o tempo flexibilizar o zoneamento, ganhando a possibilidade de fazer mais espigões. Nos últimos 10 anos, o local passou por um boom de edifícios de alto padrão, vendido sob o pomposo nome de Ecoville, estratégia similar à utilizada em um bairro próximo, o Bigorrilho, cujo nome comercial é Champagnat. É esta indústria do alto padrão que vem tentando ganhar espaço sobre o clube sessentão, que fica próximo à Via Rápida Sentido Bairro.

“Todo dia vem corretores e empresários aqui fazer proposta. Não tem como vender,  não tem como trocar. A quem vem aqui a gente pergunta se tem placa de “vende-se” na frente: não tem”, contou Choinski.

O campo do Imperial é uma fronteira entre a Curitiba dos apartamentos milionários e verticais e a Curitiba que resiste horizontal. De um lado, como confere nas imagens da abertura da reportagem, o horizonte de grandes edifícios. Do outro lado, afastando-se da via rápida, um cenário urbano parecido com o da vizinhança do “vizinho” (e arquirrival) Nova Orleans, atual campeão da elite da Suburbana, lugar de sonho do Imperial, que disputa a Segundona.

Por falar em sonho, um dos do Imperial é atrair os novos vizinhos, moradores dos prédios da região. “Estamos tentando e não é fácil. Estamos divulgando o clube e temos escolinhas de futebol. Mas o pessoal dos prédios não aparece. Não sei se têm medo. Este ano pegamos o clube e tentando fazer tudo na base da boa vizinhança, na boa, para ver se amealhamos mais gente para o Imperial”, explicou o presidente.

O Octávio Sílvio Nicco, que recebeu uma boa mão de tinta recente nas cores do clube, tem estrutura com banheiros femininos e masculinos, lanchonete e duas retas de arquibancadas, no lado inverso às cabines e bancos e nos fundos do estádio. Para os mais fanáticos, a Torcida Organizada do Imperial fica com sua bateria no gol de fundo. E não é só futebol, pois há junto à equipe um clube de pôquer, esporte que vem crescendo, principalmente no segmento social de classe média e média alta, justamente o dos novos vizinhos do Tricolor.

Um hóspede querendo ser do barulho

Não é só o Imperial que manda jogos no Octávio Sílvio Nicco. O Bangu, que joga a Série A, atua no campo do Imperial. A estadia do time alvirrubro que é do Seminário, bairro vizinho ao Mossunguê, é devido a ter vendido o terreno de seu antigo estádio e não ter um novo. Na casa alugada, o Bangu ainda não venceu: foi batido pelo Renovicente por 4 a 1 na 1.ª Rodada do certame e empatou com o Vila Hauer por 1 a 1 neste sábado (11) pela 3.ª Rodada.

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