Há exatos dois anos, no Egydio Ricardo Pietrobelli, o Vila Hauer batia o Capão Raso por 2 a 0 e conquistava o título da Suburbana Juvenil. Aquele foi o último jogo da categoria. Já o Adulto teria mais uma semana, pois a decisão foi até o terceiro jogo. Neste período, o destaque da competição e da decisão, o atacante Luiz Skibinski, artilheiro, autor de um gol e uma assistência no jogo decisivo, além de três gols na ida que renderam pedido de música, viveu uma trajetória que envolveu a partida para um clube profissional, mas uma grave doença com apenas 18 anos de idade.
Assim como as competições, que com o possível arrefecimento da pandemia da Covid-19 têm retorno previsto para meados do próximo ano, Skibinski acabou de vencer as turbulências. Se em campo, o letal artilheiro do Pantera chamava a atenção pela precisão na finalização, fora dele precisou passar quase um ano para se ver livre de um câncer pulmonar agressivo. Agora, está pronto para o retorno e o Futebol Metrópole conta essa trajetória.
Início e glória no Vila Hauer
Luiz Skibinski joga futebol desde os 6 anos de idade, mas nunca havia disputado competições federadas, tendo passado por várias escolinhas. Onde mais se destacou antes do Vila Hauer foi na Escolinha Furacão Capão Raso, do Athletico Paranaense.
A chegada ao Vila Hauer, no início de 2019, aos 16 anos, foi fruto de amigos que já estavam no clube. “O técnico [Policarpo] Pereira perguntou para eles se tinha alguém que jogasse na frente, que fosse centroavante. Aí eles comentaram de mim e o Pereira agarrou a ideia. No dia seguinte, ele me ligou, conversamos e na semana seguinte eu estava treinando com o elenco”, revelou Skibinski.
A indicação deu certo e deu liga ao time. Foi a peça que faltava em uma dianteira poderosa. O Vila Hauer foi disparado o melhor ataque da competição, com 40 gols, 15 a mais que o segundo melhor (o Imperial, que ficou em 11.º lugar). Luiz Skibinski fez metade desses gols, 20, o dobro do vice-artilheiro da competição.
O time campeão do Vila Hauer também tinha uma defesa sólida, tendo sofrido apenas 11 gols em 17 partidas, apenas dois gols a mais sofridos que o Trieste, melhor defesa, que foi eliminado pelo próprio Vila Hauer em um disputadíssimo duelo nas quartas de final. Assim, derrubando equipes que tinham maior favoritismo, que o Pantera conquistou o título juvenil de 2019. E seu bomber estava pronto para voos mais altos.
Próxima parada: Paraná Clube
Um desempenho avassalador na temporada de estreia, mesmo não estando no limite da idade da categoria, fez o atacante atrair olhares. E assim Luiz Skibinski chegou para treinar no Paraná Clube no início de 2020. “A chegada foi bem tranquila. Claro que com um certo nervosismo e aquele friozinho na barriga pois nunca tinha entrado para uma base e treinado com o grupo até então”, revelou o atacante.
Com o tempo, inclusive, poderia ser uma questão de tempo a assinatura de um contrato com o Tricolor da Vila Capanema.
Porém, logo depois, com o começo da pandemia da Covid-19, as competições de base foram paralisadas no estado. Ao mesmo tempo, o Paraná Clube começou a desmontar sua base, que veio a ser reativada apenas no fim de 2021. Os jogadores passaram a treinar em casa, acompanhados pela comissão técnica, neste período, mas algo terrível aconteceu antes.
“Foi como se nossa vida estivesse desmoronando”
No final de 2020, começaram a aparecer os primeiros sintomas. Uma dor no peito, um aperto de leve. Porém, não atrapalhava o desempenho das atividades diárias. Porém, a dor foi ficando mais forte e surgiu a necessidade de uso de relaxantes musculares para conter a dor. Já em janeiro deste ano, dias depois do aniversário de 18 anos do atacante, as dores pioraram bastante e um médico foi consultado.
Na consulta, foi feito um exame de raio-x que constatou água nos pulmões, que poderia ser vindo de algum processo inflamatório. O sintoma por si só é algo relativamente simples e tratável, mas o médico notou algo estranho próximo aos pulmões que precisaria ser visto em um exame mais detalhado, no caso uma tomografia.
A tomografia detectou uma mancha próxima aos órgãos e a partir daí veio um encaminhamento a partir do posto de saúde da região em que mora para que exames mais detalhados fossem feitos a partir de 26 de janeiro no Hospital Erasto Gaertner, referência em tratamento de câncer em Curitiba, pois era uma das suspeitas que a tomografia apontava.
Porém, Skibinski foi sentindo os sintomas cada vez mais fortes e a cada dia tinha menos forças, mais dores e começou a ter cansaço extremo e dificuldades para andar. Um dia antes do previsto, no dia 25 de janeiro, data sempre lembrada pelo jogador, uma segunda-feira, deu entrada no Erasto Gaertner para uma bateria de exames. Foi uma semana inteira de exames que chegou ao diagnóstico: o jovem de apenas 18 anos estava com um tumores malignos na pleura pulmonar, um tipo de câncer bastante agressivo e de alto índice de letalidade. Precisaria começar para valer uma luta pela vida.
“A descoberta foi muito difícil para mim e para a minha família. Foi como se nossa vida estivesse desmoronando e eu não queria acreditar que estava doente, pois eu sempre fui saudável e nunca tive problemas de saúde”, contou Skibinski.
Foram longos e duros oito meses de quimioterapia, tratamento bastante doloroso e cheio de efeitos colaterais, além de dois meses de radioterapia em paralelo. Depois, foi feita uma cirurgia para finalizar o ciclo de tratamento. Além do apoio da família nesses dias duros, o carinho dos ex-companheiros de Vila Hauer. “Temos nosso grupo ainda do elenco, sempre mantemos contato e nos falamos. Jamais quero me separar deles, pois nesse tempo que eu fiquei doente todos me passavam apoio e isso me motivava mais ainda a lutar e vencer”, revelou o camisa 9.
No fim do mês que passou a notícia mais importante, infinitamente maior que a artilharia disparada de dois anos atrás: Luiz Skibinski está curado e finalmente pode fazer os planos para o futuro que os jovens como ele, que fará 19 anos em janeiro, merecem fazer. As boas novas podem ser sim consideradas um bicampeonato.
Os primeiros dias do resto de nossas vida
Com o Paraná Clube, oficialmente não há mais laço até o momento. O clube não chamou o atacante quando do retorno aos treinos e reativação do departamento de base. “Recentemente vi que eles voltaram a treinar, pelo visto chamaram só os que tinham contrato para retornar aos treinos. Eu não tinha contrato com eles, mas tinha certeza que, se não fosse a pandemia, eu iria assinar, pois vinha muito bem de 2019 e treinando bem com o grupo, só estava esperando uma oportunidade de jogar algum amistoso”, contou Skibinski.
Assim, sem compromisso firmado com o Tricolor da Vila Capanema, o que se desenha é um retorno ao Tricolor em que já fez história, o Pantera. “Pretendo voltar sim. Neste ano quero voltar a disputar a Suburbana novamente. Estou vendo com o pessoal do Vila Hauer para fazer meu retorno aos gramados”, disse o artilheiro.
No caso, o retorno seria já na categoria adulta, salvo alguma mudança de regulamento. Neste caso, a situação do Vila Hauer é de ter sido rebaixado após ter retornado à elite em 2018. Assim, o certame a disputar é Série B da Suburbana, campeonato que costuma ser bastante disputado entre as equipes de topo, sempre com pelo menos meia dúzia de agremiações com condições técnicas de pleitear as duas vagas na elite do ano seguinte.
E a velha nova casa deixou laços naquela equipe de base vitoriosa de 2019. Laços nunca desfeitos e que foram combustível para a recuperação de uma doença tão grave. “Éramos muito unidos. Todo mundo se gostava lá dentro e não tinha ninguém que rachava o elenco ou algo do tipo. Com isso a gente jogava mais leve e se sentia bem em campo, pois quando olhávamos para o lado nos víamos nossa família, não apenas um companheiro,mas sim víamos uma família. Então tenho certeza que nunca iremos nos afastar. Fizemos história, eliminando um por um dos favoritos do campeonato e sendo campeões. Ficará marcado para sempre em nossas vidas”, concluiu.
E depois de tudo isso, 2022 promete um renascimento nos gramados.