Nova fórmula do Brasileirão contraria Estatuto do Torcedor

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Isso mesmo, o novo regulamento do Brasileirão a partir de 2016, sem que se discuta inicialmente se é bom ou ruim, é ilegal. A medida, em estudos pelos clubes e pela CBF e que ganhou força após reunião entre clubes, a entidade e a televisão, viola o artigo 8.º da Lei Federal 10.671/03, o Estatuto do Torcedor, em seu segundo item:

Art. 8o As competições de atletas profissionais de que participem entidades integrantes da organização desportiva do País deverão ser promovidas de acordo com calendário anual de eventos oficiais que:

II – adote, em pelo menos uma competição de âmbito nacional, sistema de disputa em que as equipes participantes conheçam, previamente ao seu início, a quantidade de partidas que disputarão, bem como seus adversários.

Sendo adotada a fórmula que dá 38 jogos de fase de classificação e mais quatro datas (um mês) aos quatro classificados, o certame cairá na ilegalidade e poderá ser questionado, interrompido e virar uma batalha legal, coisa que já aconteceu em outros casos relacionados a ações na Justiça Comum nas Séries C e D.

Mas é bom ou é ruim?

Após este pequeno introdutório jurídico, afirmo que esta mudança é ruim. Além de fazer clubes não classificados terem um mês a menos de atividade tendo de arcar com salários de jogadores e funcionários, é apenas um remendo. É parte da tradição brasileira de tentar inventar fórmulas mágicas para resolver problemas que não têm correlação com tal solução milagrosa.

O Campeonato Brasileiro tem alguns problemas como produto. Alguém conhece a logo oficial da competição? Não existe. E um site oficial próprio dele? Também não existe, estando aninhado dentro da CBF. É um campeonato que não sabe se vender para se viabilizar financeiramente. Outros problemas alegados pelos clubes ou não existem de verdade ou estão sendo atacados do jeito errado com a fórmula mágica que um dirigente teve a desfaçatez de chamar de fórmula mista e que prefiro de chamar de corrimento (pontos corridos iguais ao atual com um cruzamento de quatro times no final).

O problema de audiência na tevê é geral de tudo quanto programa. A última década e meia experimentou a massificação da internet e da televisão por assinatura. As pessoas têm mais alternativas de lazer e isso pode ser percebido até nas audiências das novelas e programas de auditório dominicais. Fora isso, há um equívoco na programação da emissora transmite as competições, com horários ruins e a política de distribuição dos jogos na televisão aberta. Em vários casos foram deixados de lado jogos importantíssimos em detrimento de passar paulista ou carioca fora de casa. Há ainda um terceiro jogo da rede, dividido entre as outras praças, mas algo ínfimo.

Outro problema alegado por clubes, CBF e televisão é o de público menor nos estádios e ele não existe. A diferença de médias com e sem mata-mata é marginal. Entre 1971 e 2002, a média de público do Brasileirão foi de 14.554 torcedores por partida, enquanto que entre 2003 e 2014, anos que tivemos pontos corridos, foi de 14.304. Com os detalhes que, no segundo período. deixamos de ter estádios para mais de 100 mil pessoas, o que poderia influenciar média em algumas partidas, e de que entre 2010 e 2014 tivemos times sem seus estádios por causa das obras da Copa, entre eles equipes com públicos expressivos em suas casas usuais como Flamengo, Internacional e o Atlético Paranaense. Sem contar que 2003 coincide com o começo da escalada absurda dos preços dos ingressos que, mesmo com crescimento médio da renda da população, afugentou muita gente dos estádios.

Os problemas reais do futebol brasileiro são basicamente más administrações dos clubes, que, em estado falimentar em sua maioria, ficam dependentes da televisão e da CBF, algo agravado pela divisão bizarra de cotas de televisão, em que temos clubes que recebem 120 milhões anuais competindo no mesmo campeonato com times que recebem 25 milhões ou menos. Vai ter competitividade assim? O ideal, neste caso, seria regulamentar uma divisão mais justa e que permita o campeonato melhorar. Minha sugestão é divisão de 50% de forma igualitária, 25% por audiência/torcida/mercado e 25% por desempenho na temporada anterior levando em conta pontos conquistados, o que também serve para transformar aquele time que pode estar desinteressado nas últimas rodadas (e que estaria do mesmo jeito no mata-mata sem chances de classificação) interessado em vencer partidas.

Além disso, para completar, nossas equipes pararam no tempo no ponto de vista físico, técnico e tático, em parte também pelo calendário apinhado de partidas, algo que o Bom Senso FC entendeu e apresentou sugestões e até nós demos também nosso palpite e incluímos também o calendário continental. E isso de termos calendários com Estaduais gigantescos é culpa também das relações de poder entre a confederação e as federações estaduais, estas também vanguardas do atraso. E não adianta criar formulismos para tentar dar uma “emoção” para poucos clubes se não se toca nos problemas de verdade. Gol da Alemanha.

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